O programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) está apoiando a realização do Colóquio Internacional Educação Formadora que vai ocorrer na Universidade de Passo Fundo, nos dias 16 e 17 de novembro. A parceria com a Universidade de Passo Fundo é resultado das atividades de pesquisa que a Profa Catia Piccolo Devechi vem realizando junto ao Grupo de Pesquisa Filosofia e Educação (CNPq), coordenado pelo Professor Cláudio Dalbosco.

 


O Colóquio pretende tematizar a relação entre educação e formação humana. A pergunta imediata que pode surgir é: a educação já não é ela mesma formação? Inconformados/as, os/as participantes podem continuar se questionando: qual é o sentido de se tomar a educação como formação? O que os organizadores e os palestrantes do evento pretendem assegurar com a ideia de educação formadora?

 


Podemos afirmar que nem sempre e talvez nem na maioria das vezes a educação é formação. Encontramos muitos exemplos, tanto no âmbito das instituições formais de ensino, como fora delas, de uma noção tão reduzida de educação que faz quase desaparecer algo que lhe é intrínseco, a saber, a própria formação. Nomeamos dois exemplos: o primeiro, na experiência educativa cotidiana fora do âmbito da educação formal; o segundo, o da educação que acontece no interior da escola e da universidade, onde a formação é substituída cada vez mais pela aprendizagem orientada por competências e habilidades.

 


Experiências autoritárias que ocorrem na esfera institucional familiar ou até mesmo fora delas, como em outros grupos informais, são casos típicos de uma educação que acontece sem possibilitar experiências formativas na perspectiva dialógico-democrática. As relações verticais que consolidam a crença de que um (o educador) é incondicionalmente superior em relação ao outro (o educando), colocando entre eles barreiras intransponíveis, negam, de partida, a possibilidade da reciprocidade de iguais entre iguais. Quando o pai de família ou o líder de um grupo qualquer se colocam na posição detentora da última palavra em relação aos outros, posicionando-se irrestritamente acima deles, não provocam a formação para a autonomia, porque desejam tê-los sempre aos seus pés. A sujeição por eles pretendida não estimula o cultivo autônomo próprio de quem está no outro polo da relação e, em vez de libertar, a educação autoritária adestra, pois impede o exercício da liberdade. Ora, a educação baseada no adestramento, que faz a liberdade desaparecer, pode ser tudo, menos formação.

 


No âmbito da educação formal de ensino, como escola e universidade, muitos exemplos mostram o quanto a educação ressente-se de formação. Tanto na prática pedagógica de sala de aula como na prática de gestão mais ampla, também é o predomínio de experiências autoritárias que impedem que a educação se transforme em formação. Contudo, é no âmbito da educação formal que há a ingerência maior de fatores externos que conduzem ao desaparecimento progressivo da formação, tornando ensino e pesquisa cada vez menos formativos. Dominadas pela lógica mercadológica neoliberal, escola e universidade voltam-se para a educação profissional imediata, abrindo mão da formação cultural mais ampla, crítica e vagarosa. A produtiva e inesgotável tensão entre formação profissional e formação humana, como duas faces de uma mesma moeda, faz o pêndulo dobrar somente para a primeira face, relegando a segunda à inutilidade e à irrelevância. Quando a educação (ensino) se reduz à instrumentalização profissional das futuras gerações, orientando-se tão somente por emprego e renda, mas não as preparando para o exercício democrático da cidadania, ela pode ser tudo, menos formação. Torna-se força meramente adaptativa, negando possibilidades de resistência.

 


A formação é um dos conceitos mais polissêmicos e controversos do campo educacional. Embora ganhe força com o moderno esclarecimento alemão, estritamente vinculado ao idealismo e ao neohumanismo, seu sentido filosófico-pedagógico recua até a Antiguidade grega. No amplo e plural projeto educacional da Paidéia, a formação vincula-se com a paraskeué, ou seja, com a preparação cuidadosa que o “homem livre” precisa fazer consigo mesmo para poder enfrentar a vida como convém. Esta raiz antiga estende-se à cultura ocidental subsequente, passando pela Humanitas latina, pela Paideia cristã e pela Bildung alemã, até chegar profundamente modificada nos dias atuais.

 


Considerando o reducionismo educacional contemporâneo, no qual a própria ideia de educação é transformada em fonte de negócio lucrativo, torna-se importante dialogar criticamente com esta longa tradição filosófico-pedagógica, visando ampliar a noção de educação como formação humana. As diferentes conferências deste Colóquio Internacional Educação Formadora tomaram para si, cada um à sua maneira, esta tarefa.

 


Inscrições: https://www.upf.br/ppgedu/coloquio-educacao-formadora 

 

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